GRACINDA
ÓLEO SOBRE TELA - 50/93,5 cm
1967, JUL / RETOCADO EM 2022, DEZ
Gracinda era a minha aspiração, o desejo esperançoso de um jovem imberbe se sentir ser humano feito; sobretudo, um ideal inatingível!
Gracinda era uma aparente loura feita boneca de porcelana. Intocável por opção alheia.
Víamo-nos, pensávamo-nos, não nos sentíamos.
Entre os dois seres sedentos de comunhão existia um terceiro, carente, maduro, dominador e possessivo; exigia a mútua inacessibilidade.
Era uma sociedade de costumes e moral controlados pelo cinzentismo da religião e do bem parecer onde as naturais chamas da juventude se recatavam nos íntimos individuais. Ou aconteciam na obscuridade do segredo possível.
Mais de meio século passado revivi esses tempos ao retocar a expressão plástica com que pretendi eternizar aqueles momentos da vida. É uma das minhas primeiras tentativas de transmitir sentimentos e pensamentos através da utilização de cores em conjugação com a criação de imagens.
Retocar "Gracinda" foi o regresso mental a um tempo ido com o prazer de olhar para um passado que agora percebo o quanto me moldou.
Para ti, Ginha, aqui fica uma das minhas memórias da juventude, do ano do meu décimo oitavo aniversário.
Rui
Janeiro de 2022