ARRAIAL
ACRILICO SOBRE PAPEL 190 g. - 17,5/25,5 cm.
JUNHO DE 2024
«Com o rolar dos dias, os pescadores ergueram tendas, colmadas com velhos oleados e ramos. Chamaram mulheres e filhos e à sombra da mata nasceu uma sorte de arraial cigano, cheio de farrapagem, gritos e lumaréus. Ali forjicavam o comer e dormiam as noites glaciais, amassagados corpos com corpos em volta dum lume de tangos. De dia a garranada dos filhos, quase em coiro, picados das pulgas e das bexigas, gambiava nas dunas.
Ardiam todos os olhos com a mesma chama; martelava em todas as cabeças o mesmo pensamento: o tesoiro! Era a glosa das mulheres, acocoradas no chão em felizarda e patética roda. Oh, iam dar um pontapé na maleita, ser limpas e fartas, poder comprar chapéus de veludo com espelhinho ou penas de canário conforme as lavradeiras que, montadas em seus jericos, trazem à ideia rainhas antigas, pendurar argolas nas orelhas, ir de farnel às romarias! »
"Aquilino Ribeiro em A Batalha Sem Fim C.L.1526-91/L.B.3ª-109"
O desejo de uma vida melhor e mais próspera no anseio por saúde, limpeza e um certo luxo.
Uma esperança assente na racionalidade feminina do ser humano.
Uma visão complementar do género oposto.
Rui
Junho de 2024