ÂNIMO
ACRILICO SOBRE TELA DE ALGODÃO 40/60 cm
SETEMBRO DE 2024
Trechos de A BATALHA SEM FIM – Aquilino Ribeiro
Publicado na edição nº 1526 de Círculo dos Leitores págs:167 e170
"Entretanto, os cabaneiros do Coimbrão, Ervedeira e algures, não sentindo a féria correr, desamparariam a duna. Quedavam os marítimos, gente que se alimenta de ar e de água, de cascas de pinheiro, se mais não tem, e desses, quando na praia lhes tocassem o búzio, não aguentava o terço. Os restantes estoiravam antes de tocar o lastro. A não ser que o Diabo lhes desse entendimento para engenharem um plano igual ao seu:"
…
"Era cabaneiro, de Mata Moirisca, e à noite os terreanhos todos, descoroçoados já com a lentidão da empresa sem verem chavo no bolso, espavoridos com o mau sucesso, levantaram. Crivados de apupos e surriadas, com os mantéis ao ombro, por entre os pinheiros, nenhum olhou para trás. Não levavam pesar, também não deixavam desânimo. Por aquele passo, obra de duas semanas mais e tocavam nas riquezas de Santa Cruz. Ficavam só marítimos, melhor! O homem da terra é egoísta e calculador. Liga com o homem do mar como o barro com o bronze. Aquele sonha apenas quando dorme, este sonha dormido e desperto. Que os levasse o Demo mailo juízo que tinham, que ainda sobrava gente para furar a duna até as entranhas do inferno e poder com os sacos do tesoiro sem arrear pelo caminho! Ficavam apenas marítimos, e aquela defecção dos jornaleiros convertia-se, afinal, em vantagem, pois os comestíveis começavam a rarear no acampamento."